quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Autos

Olho, morto,
Torto,
O enclave que tardia
Enclausurado no cárcere carpetado
Sisuras de uma tarde sem paradeiro

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Falas em 2015

Escrevo quando estou distraída ou ardendo. Nos dois casos é um suspiro. A partir deste 2015 vou desaguar por aqui. O poeminha abaixo escrevi em 2013, numa tarde em que visitei o MAM de Niterói/RJ.

Redentor

Ele é mais belo lá
Visto daqui
Projetado a 45 graus
Do horizonte
A 6.000 metros cúbicos de mar
Num silêncio infindável e claustrofóbico
Pelos vidros da torre do arquiteto

domingo, 15 de junho de 2014

Eles & Elas

Hoje escrevo para dizer de artistas que brevemente nos presentearão com seus trabalhos individuais. Tenho a boa sorte de conhecer todos pessoalmente, alimentar amizade de anos com alguns e ter caminhado junto. Com Lú, Aloisio, Lelê, Fê e Mestre já dividi o mesmo palco.

Por hora, registro o meu desejo e votos cheios de axé para ter em mãos o trabalho
dessa gente que honra a música desse Brasil logo, logo.
Falo das maravilhosas cantoras Luciana Alves e Negravat, de SP;  os cantores mineiros Fernando Bento e Álvaro Ferr; o baiano Aloisio Menezes; o alagoano Mestre Sapopemba; o compositor e meu parceiro, de Belém do Pará, Leandro Medina.

A gente merece ouvir vocês! Abaixo, um vídeo de cada.


Negravat - http://m.youtube.com/watch?v=1eRrSKp2N2Y
Luciana Alves - http://m.youtube.com/watch?v=WAho9niV5Uo
Fernando Bento - http://m.youtube.com/watch?v=qPv75U_0Ti4
Álvaro Ferr - http://m.youtube.com/watch?v=g0ZRErZcBfs
Aloisio Menezes - http://m.youtube.com/watch?v=akyYdxzhmuo
Mestre Sapopemba - http://m.youtube.com/watch?v=oQwDW0UcnxU
Leandro Medina - http://m.youtube.com/watch?v=Gj-T6be8Yo4

segunda-feira, 2 de junho de 2014

"Tejo-Tietê" delicadezas entre Brasil e Portugal

"Tejo-Tietê" é um dos CDs mais bonitos e amorosos que ouvi nos últimos meses. A parceria entre o excelente violonista Chico Saraiva com a maravilhosa cantora de Lisboa, Susana Travassos, é de arrancar lágrimas tamanha beleza. Estão a sós. Cordas, a alma de tantos de nós, águas, portos.
Trabalho feito de silêncios como a lembrança, a solidão, o mistério, a despedida ou a chegada. O violão de Chico é o próprio carvalho ecoando e a voz de Susana, nossa mais afetiva memória carregada de tanta herança. Trabalho tecido em fios de delicadeza.
Obrigada Chico e Susana, queridos!
Aqui, amigos, dois vídeos:
https://www.youtube.com/watch?v=UU4GPkpSS_U - Sei de um rio
https://www.youtube.com/watch?v=EHW8mUfQRe0 - Tamanho da tristeza

domingo, 18 de maio de 2014

Inseto raro

O primeiro show que assisti foi 'Inseto Raro', levada pelas mãos de meu irmão-escritor, Marcelino Freire.
- Fabiana, você não acredita na cantora maravilhosa que descobri. Você precisa conhecer. Vamos ao show?
Não titubiei e lá fomos para o teatro onde Titane se apresentaria em São Paulo. Falo de pelo menos uns 16 anos atrás.
O espetáculo tinha a assinatura do já consagrado diretor João das Neves e Titane se apresentava com o excelente violonista e parceiro musical Gilvan de Oliveira.
Terceiro sinal. Uma plateia de cabaré, intimista, pertinho da arena. Uma nota e Titane adentrava com toda a majestade que carrega dos pés a garganta. Sua voz fez uma catarse no meu corpo e transbordei. Ali, pela segunda vez na vida - a primeira foi Maria Bethânia num show ao vivo - tive a certeza do que eu, ainda num futuro incerto, definiria como caminho para a vida.
Titane é espécie rara. Em tudo. Na voz de soprano agudíssima, rascante, portentosa, certeira, visceral. Na intérprete que não desperdiça uma única sílaba, suspiros e pausas. Na mulher que dança rainha e cria esperanças com o seu corpo brincante. No amor e militância pela cultura popular e todos os seus descendentes que embala no coração.
Titane é de Oliveira/MG onde o Congado faz o verde do capim. De onde este 'Inseto Raro' se alimenta e voando ajuda muitos de nós a enxergar melhor. Com beleza. Amor.
Na semana seguinte a este show, lá estávamos eu e Marcelino em Campinas novamente para aplaudir e chorar. É muito grande vê-la. Derrama a gente.
Hoje, cantora, te agradeço Titane e continuo seguindo os seus passos como o bom aluno que não esquece os Mestres. Salve!
No vídeo abaixo, ela interpreta 'Tirana da Rosa' com Gilvan de Oliveira.
http://m.youtube.com/watch?v=mJHQH6jugsk

sábado, 3 de maio de 2014

Dori, Guinga e Quinteto Villa-Lobos

Há duas semanas eles me tomam o juízo. "Dori Caymmi - 70 anos", CD comemorativo em que o compositor gravou inéditas com seu parceiro e amigo Paulo Cesar Pinheiro e "Rasgando Seda" que traz a música de Guinga acompanhada de seu violão e interpretada pelo Quinteto Villa-Lobos.
Em paralelo a dias cinzas, com espetaculosos noticiários oportunistas e violentos, denúncias e corrupção de toda a sorte, promoção midiática de uma tal "música brasileira" enfraquecida pela ausência de poesia e música, propriamente dita, ouvir Dori, Guinga e seus companheiros do Quinteto Villa-Lobos é como que navegar este mesmo mar estranho, mas pelo avesso. Trazer rosa aos ventos e rememorar o que aparentemente se perdeu em nós. Nestes discos, revi "a morena do mar", por exemplo. Com ela, estava o mestre Dorival Caymmi e um tanto de mistérios e encantos da Bahia que a literatura de Jorge Amado imortalizou. A voz de Dori é chamamento, igual couro de tambor que desperta e adormece.
Em ambos os CDs tinha muita reza, violeiros, frevos, valsas, silêncios, delicadezas, boniteza. Acho que estes artistas fazem música cerzindo o Brasil. Paulo Cesar Pinheiro é poeta que carrega balaio de gente na cabeça e esperança. Sua palavra é feita de planta. Traz amor, partidas, rodopia, conta histórias de um tanto de coisa que a gente não vê, mas sente.
Guinga pra mim é Marc Chagall e junto de sua música sonho demais. Os sopros do Quinteto Villa-Lobos bailam de mãos dadas com o erudito e o popular e fazem carinho. Ao pé do ouvido.
De dentro da minha cozinha, agradeço a estes artesãos por encherem o meu coração de alegria e de sagrado.
Aqui, um programa que Dori e Paulo Cesar Pinheiro gravaram pela TV do Sesc. https://www.youtube.com/watch?v=wiJe2_vRRtI
Um vídeo de Guinga com o Quinteto Villa-Lobos
https://www.youtube.com/watch?v=eac3A6M4IV8

 Dori Caymmi

Guinga

sábado, 26 de abril de 2014

Tambor mineiro

`Pro fim do inverno´ é o CD de estreia do mineiro Cristiano Cunha e também título da canção que abre seu disco. Compositor, ator e percussionista, Cris, que conheço há pelo menos seis anos, é dessa gente que vai pra vida com poesia, risos e muita coragem. Não à toa está desbravando São Paulo. Por não caminhar sozinho, trouxe suas caixas do Congado, as gungas que calam os olhos de quem o vê dançando, negro, faceiro, altivo e ainda cantam tantos moçambiques, reisados, catiras, candombes. Coisas e gentes que ele conheceu, lugares onde pisa e pede licença. Sua escrita desfia calmamente lembranças contadas ao pé do ouvido por sua bela voz e anuncia um compositor inspirado, que não tem pressa para apurar e encontrar a palavra. As que dizem do coração. O 'inverno' do disco é um convite à 'noite velada' que mora em todos nós, um prenúncio à chegada de uma nova estação. Cris faz carnaval silencioso.
O CD tem direção musical caprichada do pianista cubano Yaniel Matos e a participação de uma geração de novos e excelentes músicos da cena belorizontina.
Belo trabalho!
Que as pedras das Gerais sejam suas gungas no mundo. Salve!

Pro fim do inverno

ah...
se esse inverno perdurar
o amor se perder
e você a ver o prato esfriar...
já não há o que fazer,
mas restam as louças, meu bem
elas são suas, meu bem